domingo, 14 de setembro de 2008

Tic-tac Impiedoso

Amigos, o tempo passa. Por mais simples que essa afirmação possa parecer, ela não é.
Pra começar, nem sabemos verdadeiramente o que é o tempo. Os maiores cérebros do mundo passam o tempo todo pensando sobre o tempo e a única conclusão a que eles chegam é que ele passa, e que perderam tempo demais pensando sobre isso.
Alguma coisa, alguma linha na programação primordial do universo, faz com que a quarta dimensão, aquela que fomos condicionados desde o nascimento a chamar de tempo, está sempre se deslocando para o que, de forma parecida ao tempo, fomos condicionados a chamar de futuro. Nessa programação estão também as linhas sobre a matéria e as linhas sobre as forças que controlam a matéria. Cada linha da programação não trabalha solitariamente, todas as suas equações dependem dos resultados das equações de outra linha de programação que, por sua vez, também depende do resto da programação, e isso tudo forma um loop infinito que dá dor de cabeça em qualquer ateu convicto.
Mas de qualquer forma, essa programação foi posta em funcionamento em um hardware incrível, o universo (que, só para constar, também está previsto na programação). E, depois de uma grande novela que os cérebros supracitados dedicam a vida inteira a descrever, desprezando todas as leis da lógica e da estatística, surge a vida em um planetinha insignificante, o nosso.
Depois de outra grande novela, que outros cérebros (não tão grandes quanto os anteriores, mas ainda assim brilhantes) também se dedicarão a descrever, surgimos nós, macacos superdesenvolvidos que se acham superiores aos outros macacos.
Nós ficamos assustados com o mundo todo, com esse exuberante resultado de uma programação de algumas linhas, e principalmente com uma parte dessa programação, a do tempo. Sim, por que é ela que nos determina o momento de nascer, o de ser feliz e passar os genes para a próxima geração e o de fechar os olhos e deixar para sempre de ser uma prova de que absurdos matemáticos existem. Nos impressiona tanto, que criamos modos de contar o tempo, desde o ciclo da lua até os divinamente precisos relógios de ciclos de radiação de rádio. Isso nos torna escravos do tempo, pois a partir daí nunca mais vamos poder ficar muito tempo sem olhar inúmeras vezes o canto superior direito da tela do celular, só para certificar-se quanto tempo se falta para ir dormir ou, mais inserido no contexto, quanto tempo se perdeu lendo um texto bloguístico inútil.
Mas simplesmente olhar as horas é algo impessoal demais. Criamos os finais de semana, as férias, a aposentadoria e, o ponto importante, criamos a idade.
Como que para comemorar sabe-se lá o que, fazemos uma festa uma vez por ano na data em que, em um certo número de anos anteriores, nós nascemos. Tem algo a ver com a felicidade de estarmos por tanto tempo vivendo e interagindo com e através desse hardware imenso. Não que faça muito sentido, no fim das contas, mas se tu for parar pra pensar, no fim das contas poucas coisas fazem sentido. Neste final de semana fui em uma dessas festas.
Muita gente legal, comida, muitas risadas, comida, muitos amigos, risadas e comida de novo. De forma geral, eu comi até quase estourar (era de graça mesmo) e ri como um condenado por diversas vezes. Muito bom mesmo.
De madrugada, eu, um amigo e o aniversariante jogamos videogames. Mas não essas coisas novas que existem hoje por aí, jogamos os velhos joguinhos, que antigamente (oh, como sou velho) não nos deixavam dormir simplesmente por que não podíamos dormir sem tentar passar mais uma fase, derrotar mais um inimigo, explodir mais um alienígena... Enfim. Super Mario World, Mortal Kombat, Bomberman e até Top Gear a gente desenterrou de um CD cheio desses games geriátricos.
A cada momento, eu sentia os meus processadores todos buscando informações no meu disco rígido. Até ontem eu nunca tinha entendido quando os velhos falam que não lembram da infância. Quando eu era criança e jogava aquilo fanaticamente, não me passava pela cabeça que iria esquecer algo. Eu pensava que aquilo que estava perenemente na minha memória RAM nunca iria virar arquivo fragmentado, mas foi o que aconteceu.
Essa busca aos tempos antigos dentro da minha cachola serviu para além de me alegrar ao descobrir que está tudo ali, só meio espalhado, serviu para me mostrar que o tempo passou para mim também. Desde o momento em que a minha cachola passou a funcionar, com as interações químicas de praxe, e surgiu o que se pode chamar de auto consciência, o nosso planeta insignificante já deu 14,8 voltas ao redor do Sol, e vão ser 15 voltas completas daqui a dois ciclos lunares... É, se for analisar isso bem, e levando em conta a média de longevidade de macacos superdesenvolvidos como eu, já se foi quase um quarto dessa minha existência. A quarta dimensão é uma linha muito cruel na programação primordial, isso ela é.
Mas não se pode ficar perdendo muito tempo com essas lamentações. A vida é algo brilhante. É tão simples, e tão grandiosa ao mesmo tempo... Nós que complicamos demais as coisas. Ela só não é mais simples do que ser feliz. Criar uma situação que faça com que o cérebro reaja de maneira a criar a felicidade é ridiculamente simples, graças à autoconsciência. Nós que mandamos na nossa vida, nós que mandamos nas coisas à nossa volta e nós que mandamos na nossa cachola.
Nós só não mandamos no tempo.

E, meus amigos, o tempo passa.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

ILSC

Quem acompanha as minhas idéias razoavelmente bem, deve ter notado que eu tenho uma incontrolável vontade de fazer com que todos entendam tudo, sempre. Isso me atrapalha um pouco, deixa meus textos um pouco cansativos às vezes, e podem acreditar, não me deixa feliz.
Então, para resolver os problemas do mundo, decidi dar um nome para essa minha mania. Não para a mania em si, isso eu deixo para os loucos, digo, para os psicólogos, mas eu vou nomear agora a dificuldade que acabou por fomentar essa mania: a insuficiência lingüística de sentido compreensível. Para melhorar um pouco, pode ser chamada apenas de insuficiência lingüística.

Eis uma possível definição no Wikipédia:

Insuficiência Lingüística de Sentido Compreensível (ILSC)

A insuficiência lingüística é o termo - cunhado por Marcus Vinícius da Silva, no dia 3 de setembro de 2008 - usado para designar a dificuldade com a qual um indivíduo se depara ao tentar descrever uma idéia, sentimento ou qualquer outra coisa a outro indivíduo, por não encontrar palavras que expressem a sentido completo ou, mais freqüentemente, por não achar palavras que passem o sentido completamente e que sejam entendidas pelo ouvinte de modo simultâneo.
Ocorre bastante em descrições filosóficas, sendo não raro objeto de estudo da filosofia. É, por tabela, o tema de muitos dos poemas sobre amor e amizade, que tentam descrever tais sentimentos.
Pode ser usado para descrever superficialmente a diferença entre escritos jornalísticos e escritos literários. Nos escritos jornalísticos, a insuficiência literária é intolerável, pois um dos objetivos primários do escrito jornalístico é passar uma informação de modo a que o receptor da mensagem a entenda. Nos escritos literários, porém, a interpretação de grandes significados a partir de pequenos pedaços de texto é um dos objetivos do autor, que busca de modo geral uma maior apreciação da língua e define a escrita como arte, se fiando na capacidade do leitor de interpretar da maneira que desejar o texto. [...]

Como nota-se, a própria definição da insuficiência literária sofre pela insuficiência literária.

De qualquer modo, a partir de agora eu vou tentar não tentar mais explicar a insuficiência literária, me referindo a ela apenas como “insuficiência literária”, salvo em momentos que me dê na telha retomar a descrição acima. E que se dane, eu almejo ser um escritor literário e por isso a ILSC é pedra no sapato dos outros (o fato de que eu retirei essa idéia de uma definição para ILSC criada por mim mesmo é pura coincidência).

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Acho que nem cheguei a falar da Dominique, minha poodlezinha. Pois bem, ela é três quartos poodle e um quarto Pit Bull (não, eu não estou tirando sarro). A interpretação da árvore genealógica dela poderia ser escrita em forma de novela mexicana, tamanha é a orgia.
Foi mais ou menos assim: certo dia um poodle muito macho se engraçou com uma pit bull. Foi lá e creu e nasceram não sei quantos cachorrinhos mestiços bonitinhos. Passou-se um tempo, então o poodle muito macho com gostos sexuais estranhos se engraçou com uma de suas próprias filhas, creu e nasceu a ninhada da qual a Dominique faz parte.
Quando veio aqui pra casa, num domingo (daí seu nome; é, eu sei que eu sou muito criativo), ela mais parecia uma bola de pêlos com latido agudo. Cresceu, cresceu, e cresceu um pouco além do que um poodle normal cresceria, e o cabelo que antes era preto começou a desbotar gradativamente. Hoje, já tosada (quase dava pra dizer que ela foi tosquiada, por que ela tinha muuuuito pêlo e voltou meio tosca; eu achei que ela perdeu toda a personalidade quando cortaram seus cabelos do corpo, agora ela tá igual a qualquer poodle de madame, o equivalente canino a uma loira oxigenada e siliconada), está um pouco mais parecida com o que se convencionou de chamar de cachorro normal. Já tem até padrinhos no grupo da panelinha do sábado.

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Como eu sou do avesso, final de trimestre é bem tranqüilo pra mim. Talvez essa tranqüilidade se traduza em mais aparições aqui, talvez não. O certo é que eu vou ler ainda mais; nunca estive tão satisfeito com a mina quantidade de leituras. Transportar-se para um mundo paralelo e se preocupar apenas com os problemas dos personagens é uma sensação impagável, e quanto mais eu pratico mais a experiência se torna real.
Estou lendo no momento Neuromancer, do William Gibson. Dizem que foi o livro que deu origem ao subgênero de ficção científica cyberpunk (futuro caótico, muita informática, muita eletrônica, muita poluição, muito couro preto, muito óculos escuros espelhados e, mais do que tudo, muitas drogas artificiais novas – tudo isso como pano de fundo para análises filosóficas profundas). Estou gostando, já me acostumei com o estilo dele, que é bastante diferente das outras coisas que eu já vi.
Um comentário bem legal a respeito do livro, é que o filme Matrix, dizem, foi um ensaio para o filme de Neuromancer. É, só não vai babar.

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Well, povo e pova, lá me vou de novo.

Abraço!