sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O Fantasma do Engenho

Os três primos caminhavam pelo centro da cidade onde estavam passando o veraneio. Era noite, de lua tão cheia que chegava a ser amarela. Eles adoravam a praia por isso também: podiam sair à noite sem ter medo de assaltantes, assassinos, estupradores e tantos outros tipos de escória onipresentes há essa hora na cidade grande.
Não era a primeira vez que vinham ao centro nesse veraneio, muito pelo contrário. Vieram várias vezes antes e já estavam familiarizados com as casas e com os transeuntes, que pouco mudavam de uma noite para outra. Isso era possível já que o centro, tal qual a cidade à que pertencia, era muito pequeno, o tipo de cidade que não existe no mapa quando não é verão.
Tinham feito tudo o que se tinha pra fazer naquela noite, e estavam começando a ficar entediados com aquele centro sem opções de entretenimento. O mais velho dentre eles ainda conseguia se divertir mexendo com as garotas que por ali passavam, mas os outros dois, inexperientes nesse tipo de coisa, só conseguiam ficar apreensivos com as reações de tais garotas.
Passado algum tempo, decidiram ir para casa, por que naquele momento o descanso que a cama prometia era mais interessante do que o ócio induzido que estavam sofrendo andando pela única avenida da cidade.
Como ainda faltava algum tempo para chegar o toque de recolher estipulado pelos pais e avós, resolveram ir por um caminho alternativo, para aproveitar um pouco mais da companhia uns dos outros.
No meio do caminho que escolheram ficava - e está lá até hoje - um engenho que antigamente era usado para descascar, ensacar e exportar o arroz colhido na região, mas que agora estava em ruínas e só servia como ponto turístico; e ele servia muito bem para isso de dia, mas de noite, como os três primos vieram a constatar, ele serviria muito melhor como cenário para um filme de terror.
O lugar era alto, com muitos e muitos andares, e era cheio de janelas que davam para um interior mergulhado no mais escuro breu. No alto do prédio havia um farol desligado, e um pouco mais atrás estava uma alta chaminé que, como todo o resto do complexo, parecia que ia desabar a qualquer momento. Do lado de fora, a grama aparentava não ser cortada há anos, e as figueiras já não suportavam o próprio peso, encostando os galhos mais longos no chão.
Eles caminhavam ao lado disso tudo com o maior vagar em uma espécie de silêncio contemplativo, que só existe nesse tipo de situação. O único som era o do vento nas orelhas e o dos passos abafados pela estrada de chão batido. E foi no mesmo silêncio que avistaram um velho escorado numa enxada, parado junto ao portão.
Sentado ao lado do velho estava um vira-lata visivelmente castigado pelo tempo, que não se mexeu em momento algum. E neste momento parou de ventar, e os três pararam em quase perfeita sincronia. O velho, como chamado pela parada deles, virou o pescoço lentamente na direção dos garotos, que o encararam de volta e viram seu rosto. Não conseguiram ver com boa definição, pois estava escuro, mas as partes iluminadas pela lua cheia revelavam rugas em cima de rugas, e, como vieram a afirmar mais tarde, os olhos transpareciam ódio e maldade.
O vento voltou a assobiar, e isso aliado à lua cheia, à rua deserta e ao engenho em ruínas, os fez pensar que quem assobiava daquela maneira não era o vento, era ninguém mais ninguém menos do que o próprio fantasma. Sim, agora não restava mais dúvidas, aquele velho era um fantasma de verdade e ai de quem dissesse o contrário.
Quando o fantasma deu um passo, os três garotos começaram a correr desabalados pela noite, crentes de que o fantasma viera para buscá-los. Corriam mais do que maratonistas, mais rápidos que guepardos e mais amedrontados do que um copo de Coca-Cola. Nas rápidas vezes que olhavam para trás, viam que a enxada que o fantasma se segurava era na verdade uma foice afiadíssima, dessas usadas pela Morte para degolar as suas vítimas, e que ele corria, aliás, deslizava velozmente na direção dos três seguido de perto pelo cachorro demoníaco que estava sentado ao seu lado.
Depois de virarem uma esquina, chegaram à conclusão de que tinham, por fim, despistado o fantasma. Mas não os amigos do fantasma.
Todos os galhos de todas as árvores que eles passavam por baixo pareciam querer pegá-los, qualquer monte de lixo visto á distância parecia alguém correndo atrás deles, e então, depois de terem corrido como loucos pelo bairro, chegaram em casa. Demoraram a dormir, graças aos galhos que batiam no teto e aos bichos que corriam de um lado a outro no teto também.

Todos os três afirmaram categoricamente que apenas haviam corrido para ver a reação dos outros dois e para chegar mais cedo em casa, mas, embora possam dizer que é apenas coincidência, nunca mais voltaram do centro pelo caminho que passa no Engenho.

9 comentários:

Anônimo disse...

Gostei muito do texto!
Podemos chamar de: "Mais uma 'Super-Produção' de Marcus Vinícius".
O que me fez gostar mais ainda foi o fato de eu já conhecê-la (muito de perto, se me permite falar) e de eu fazer parte do grupo de corajosos que já se atreveram a conhecer o lugar à noite! (E pode apostar: tem que ter muita coragem pra se dispor a isto!)

PS:Eu estou comentando como anônimo pois não sei comentar da outra maneira.

Anônimo disse...

uhauahuahuahauhauah
Ótimooo post!
Adorei!
Fiquei pensando até que contiuaria no prox. post!
hehehehehe

Historia inventada ou vivida?
:X

beeeeijooo, perfeitinhoooo

Antônio Dutra Jr. disse...

[Antes de comentar, uma perguntinha básica: como seria um copo de Coca-Cola amedrontado?]

Er... Baseado em fatos reais? hehehe
Cara, tu tá lendo muito os contos do Frodo. Essa parada de terror não é pra mim, sou muito medroso. Se eu começar a escrever sobre fantasmas, nem durmo à noite.
Aliás, obrigado por me fazer pensar que tem um cachorro demoníaco dormindo embaixo da minha cama. Vou demorar horas pra pegar no sono.

Abraço, guri!

Anônimo disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkk
Adooorei mais ainda a história por ser real!
\o/
Imaginação é uma das melhores coisas que podem existir.
Eu às vezes passo hoooooras viajando nas minhas idéias, vou longe mesmo!
hehehe

óTimo domingo, Perfeitinho lindooo
;******

Unknown disse...

Viu, eu não disse que tu ainda vais escrever um livro? Só espera até eu montar minha editora, tá bom?...
Valeu, Marquinhos, boa semana!

Kari disse...

Mas que estória em Marquinhos!!!!
E além de se tornar mais apavorante por ser real, está muito bem escrita, o que torna qualquer estória muito mais real, mesmo sendo apenas ficção... Compliquei, né? Mas espero que tenha dado pra entender!!!!!

Adorei!!! E adoro estória de terror!!!!!!!

Beijão pra tu "guri"

Jader disse...

Eu repito a pergunta do Antônio... alguma semelhança com fatos reais é coincidência?

A muito tri passear por essas bibocas à noite e encontrar essas figuras estranhas...

Belo texto, maninho! E obrigado pela acolhida na tua casa mais uma vez!

Abração!

Unknown disse...

Caraca, ja te falei que viras escritor né..
bom adorei o teu texto, mto bom mesmo, tenho lido todos, mas nao tenho comentado...
Você escreve mto bem!!!
Parabens!

Adriana
Blumenau /SC

Anônimo disse...

tu és um otimo escrito
meu irmão
nunca vi alguém
escrever tão bem como
tu
blz!
continua sendo esse cara bem
inteligente!!!!!!!!!!